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Resumo de artigo no âmbito da Farmacovigilância
Farmacovigilância de atos suicidas amplia conhecimentos clínicos e farmacológicos. Autores italianos extraem conhecimentos relevantes a partir dos dados do FDA.
Estudo que se debruçou sobre os registros de milhares de casos de atos suicidas pela ingestão deliberada de medicamentos vai ajudar clínicos, farmacologistas e outros profissionais interessados em ampliar seus conhecimentos, particularmente quais são as letais de diversos fármacos importantes e cuja avaliação direta enfrenta limitações éticas que seriam insuperáveis de outra forma.
Atos suicidas são uma causa importante e crescente de perda de anos de vida em todo o mundo e o autoenvenenamento deliberado (AED) é a abordagem preferida.
Por outro lado, estudos laboratoriais sobre toxicidade dos fármacos realizados em ratos e camundongos foram muito restringidos a partir de 17 de dezembro de 2002, em benefício do uso de métodos mais éticos. Portanto, são escassos os dados sobre doses letais, tanto em animais como em seres humanos, apesar da sua relevância na seara clínica. As avaliações no âmbito da farmacovigilância podem contribuir muito para preencher esta lacuna de conhecimentos, contribuindo com um tema em destaque conhecido como “Evidências de Mundo Real”.
Pesquisadores do Departamento de Ciências Médicas e Cirúrgicas da Universidade de Bolonha, na Itália, realizaram um estudo nos registros do Food and Drug Administration Adverse Event Reporting System (FAERS), relativos ao período de janeiro de 2004 a dezembro de 2021. A busca de dados se iniciou com 17.254.601 relatórios FAERS brutos, e após triagem primária foram selecionados 11.728.098 relatos, entre os quais havia 42.103 casos de provável AED e entre estes, 22.280 (52,9%), explicitaram uma intenção de autoagressão.
Principais achados
AED foi mais relatado em indivíduos jovens com diagnósticos psiquiátricos, mas a taxa de mortalidade foi maior em adultos do sexo masculino com uso concomitância de álcool.
Quanto as classes de fármacos, as mais comuns foram:
- antidepressivos (14,0%),
- analgésicos (11,0%),
- antipsicóticos (10,0%).
Os cinco medicamentos mais relatados foram paracetamol (10,1%), prometazina (3,5%), anlodipino (3,4%), quetiapina (3,2%) e metformina (2,9%).
A taxa de mortalidade (número de mortes/número de atos) foi maior para oxicodona (60,8%) e menor para prometazina (0,5%). Considerando os casos fatais, fármacos mais implicados foram paracetamol, seguido pela oxicodona, ao passo que a série não fatal foi liderada pela prometazina e amlodipino. Quanto ao gênero, mulheres atingiram 45,2% e os homens, 37,7%.
Quanto a distribuição etária, AED foi mais relatado em indivíduos jovens com diagnósticos psiquiátricos, mas a taxa de mortalidade foi maior em adultos do sexo masculino com uso concomitante de álcool.
A sequência temporal mostrou pico no biênio 2007/2008, (coincidindo com a crise financeira global) e no biênio 2019/2020, (no início da pandemia de coronavírus).
Dados do FAERS incluem informações sobre quantidades ingeridas permitindo estimativas da letalidade por dose, principalmente para o paracetamol (estimadas LD25 ≈ 150 g, LD50 ≈ 250 g, LD75 ≈ 325 g) e para amlodipina (estimadas LD10 ≈ 0,25 g e LD20 ≈ 1,00 g).
Além dos dados demonstrados neste estudo, ressalte-se também a importância dos dados abertos de farmacovigilância para que pesquisadores e demais profissionais envolvidos com o tema possam fazer as avaliações e os resultados, quando divulgados, contribuírem para melhorar os procedimentos quanto ao Uso Racional de Medicamentos.
Fusaroli M, Pelletti G, Giunchi V, et al.
Deliberate Self-Poisoning: Real-Time Characterization of Suicidal Habits and Toxidromes in the Food and Drug Administration Adverse Event Reporting System.
Drug Saf. 2023 Jan 23:1–13. doi: 10.1007/s40264-022-01269-x. PMID: 36689131; PMCID: PMC9869307
Link para o resumo na plataforma pubmed
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36689131/
Link para o artigo integral gratuito
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9869307/